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A Magia do Caos No Processo Criativo

CopyLetter – Edição #003

"O ato mais estúpido de criatividade ainda é um ato criativo"

(Clay Shirky)

(Recomendo que leia a CopyLetter#003 ouvindo:
"Song For The Dead" do Queens Of The Stone Age)

Agora, vamo bora, que o cavalo está passando! 🐴🐎 

Há muito tempo eu estava querendo escrever sobre o processo caótico de criação e como a desordem anárquica pode fazer bem para a nossa arte e ao mesmo tempo destruir o nosso ego.

Há pessoas que se sentem bem quando seguem o mesmo script todos os dias, sem grandes mudanças (pode ser, inclusive, que este seja o seu caso – e tudo bem).

Acontece que há um perigo nisso: quando seguimos sempre o mesmo script, a vida pode acabar se tornando um pouco tediosa.

E, especialmente, atrapalhar o processo de criação.

Você gostaria de se permitir quebrar este ciclo vicioso e chato que pode te fazer morrer de tédio?

A verdade é que é possível encontrar um certo conforto na zona de desconforto. Mas, para isso, é preciso que você leia as próximas linhas e descubra como se beneficiar da "Magia do Caos".

Desordem, Caos e Improvisação

Tim Harford, autor do livro "Messy" traz um apanhado de conceitos caóticas para você se tornar mais criativo e resiliente em um mundo que gosta de arrumação – com tudo "certinho" e em seu devido lugar.

Harford explora como a desordem, o caos e a improvisação podem desempenhar um papel importante na criatividade, inovação e sucesso em diferentes áreas da vida.

Este ambiente mais irresponsável faz você ser você mesmo.

Faz você pensar em situações, soluções e esquisitices que jamais pensaria em sua mesa de trabalho arrumadinha, onde se senta das 9h às 18h.

É no meio da desordem que a "Magia do Caos" pode inspirar e encorajar você a quebrar barreiras e questionar o status quo.

Há uma história espetacular de uma figura acostumada a quebrar regras e viver na desordem: David Bowie.

Em 1976, ele voou para Berlim Ocidental para tentar gravar coisas novas, pois acredite: ele estava se sentindo "travado" para compor.

Bowie, o astro da música, "estranho" e ambissexual havia rasgado diversas vezes o livro de regras do rock, criando uma persona depois da outra – desde Ziggy Stardust a Thin White Duke – e mesmo assim estava se sentindo travado.

Bowie se instalou perto do Muro de Berlim, na época da Guerra entre a Alemanha Ocidental x Alemanha Oriental.

Nos estúdios Hansa, ele e a lenda Iggy Pop gravaram uma série de álbuns revolucionários, enquanto eram rodeados pelas metralhadoras da Alemanha Oriental.

O produtor de Bowie, Tony Visconti, disse que tudo o que envolvia o lugar gritava: Vocês não deveriam gravar um disco aqui. 

Mas, em meio aos grandes museus, aos lendários clubes de fetichismo e à geopolítica tumultuosa de Berlim, Bowie encontrou o que precisava:

  • Novas ideias 

  • Novas restrições 

  • Novos desafios

Nesse processo de gravação surgiu o músico e produtor britânico Brian Eno – frequentemente mencionado em livros que falam sobre criatividade.

Brian Eno possui um jeito incomum de trabalhar, pois sua especialidade é criar músicas em ambientes caóticos.

Ele desenvolveu o conceito de "Oblique Strategies", no qual ele tira uma carta aleatória e manda um comando para a banda, que pode ser desde o guitarrista ir tocar bateria, até mesmo a banda inteira tocar com os instrumentos totalmente desafinados, sem seguir qualquer lógica.

O motivo disso tudo?

É neste caos que ele cria uma nova perspectiva para a sua arte.

A ruptura coloca um artista, um cientista ou um engenheiro em territórios pouco promissores – um vale profundo, e não um pico familiar.

Este processo, apesar de ser estranho e caótico, gera resultados surpreendentes.

Para você ter ideia, o Brian Eno acabou co-produzindo dois dos álbuns mais aclamados pela crítica na década de 80:

"Low" e "Heroes" de David Bowie, além das obras mais respeitadas de Iggy Pop, "The Idiot" e "Lust For Life".

A trilogia de álbuns de Berlim ainda termina com "Lodger", de Bowie, um disco que teve um título provisório revelador: "Planned Accidents (Acidentes Planejados)".

Meu primeiro contato com a "Magia do Caos"

Lembro-me de um exercício que meu professor de redação do oitavo ano passou.

A regra era simples:

Ele dava 5 minutos para ficarmos soltos escrevendo o que quiséssemos, o mais rápido possível (sem pontuações, correções, nada).

O nosso trabalho era apenas registrar de forma rápida os pensamentos que viessem à mente.

Na sequência, ele dava algumas palavras-chaves para colocarmos ao longo do texto.

Este exercício fazia a gente trabalhar no nível turbo a nossa mente para encontrar os melhores espaços para encaixar as palavras-chaves.

Puta merda, era muito foda. Eu adorava aquilo.

Aquele caos era a magia perfeita para a minha imaginação ficar ainda mais fértil.

Recomendo que você também faça este exercício e depois me conte como foi, pode me chamar lá no insta: @imlucasantonio 

Acredite: o caos pode ser seu amigo – e até mesmo o seu combustível para jogar ao mundo uma criação feita com muito esforço, suor e maluquices.

Incrivelmente, as minhas campanhas que mais venderam foram aquelas que escrevi em cima da hora, com a ansiedade exalando de ponta a ponta no meu corpo e se esvaindo pelos dedos, seguindo em direção ao meu teclado cinza da Logitech – já bastante surrado! 

Campanhas que, a cada linha, o relógio não andava – mas corria.

Era uma luta constante minha contra o tempo (e ele sempre parecia estar vencendo).

Costumo brincar dizendo que essa adrenalina misturada com a ansiedade acaba aumentando o "Sex Appeal" do texto.
(Alô HC, vou registrar o bordão)

[⚠️ Alerta]
Veja bem, estou falando exclusivamente do momento da escrita. Não deixe para última hora a parte de pesquisa, porque assim nem o "Deus Khaos" poderá te salvar. 

Gostaria muito de falar que esse processo excêntrico é uma exclusividade minha, mas não é, isso faz parte da criação desde que o mundo é mundo.

Artistas, músicos, pintores, empresários e outros tantos repetem esse processo de criar soluções e artes em momentos controversos e caóticos.

Tim Harford traz vários exemplos em seu livro, como:

- O famoso pintor Jackson Pollock trabalhou em meio ao caos. Suas pinturas abstratas expressivas, muitas vezes foram criadas em estúdios desordenados, onde ele podia se mover livremente ao redor da tela.

- O diretor de cinema Francis Ford Coppola é mencionado por sua abordagem caótica à criação de filmes, especialmente durante a produção de "Apocalypse Now." A produção do filme foi notoriamente tumultuada, mas resultou em um trabalho cinematográfico icônico.

- O lendário músico Bob Dylan é citado por sua abordagem desordenada à escrita de letras e composição de músicas. Ele muitas vezes incorporava elementos caóticos e improvisação em seu processo criativo.

- Até mesmo o co-fundador do Airbnb, Brian Chesky, encontrou inspiração para seu negócio em um momento de desordem. A ideia para o Airbnb surgiu quando ele e seus colegas estavam desesperados para pagar o aluguel de suas casas em San Francisco.

Você Não Precisa Ser Genial

Eu sei que alguns leitores vão pensar:

"Ah, mas é fácil para vocês criarem no caos, já são escritores, músicos ou artistas. Eu não consigo criar nada diferente no silêncio, imagina no meio da bagunça."

Olha, você tem uma puta criatividade aí dentro de você.

O problema é que você ainda não marcou um horário com ela para se encontrar e colocar pra fora.

Somos criativos o dia todo. É só prestar atenção no número de ideias que você tem quando está tomando banho, lavando a louça, caminhando ou tomando uma taça de vinho, por exemplo.

A criatividade já está aí dentro de você.

Mas é necessário que você tenha uma hora marcada para colocar ela pra fora, seja no papel, em um instrumento, num quadro ou até mesmo em um novo negócio.

Minha dica: pegue tudo que está rodando em círculos na sua mente e vomite todos os pensamentos no papel – o mais rápido possível!

Anote. Anote. Anote.

Não precisa de um Notion bonito ou caderno decorado.

Anote em qualquer lugar.

Pode ser até em uma caixa de pizza, assim como o saudoso Chorão (Charlie Brown Jr.) fazia para anotar suas letras e ideias de músicas.

Gosto muito de uma frase do Rory Sutherland (Ogilvy) que está em seu livro "Alquimia":

"O problema da lógica é que ela mata a magia."

Não tente ser lógico no momento da criação, apenas deixe fluir o que está dentro de você.

Quando Thom Yorke, líder da banda Radiohead, se sente estagnado na criação, ele pega um instrumento que NÃO sabe tocar e tenta usá-lo para compor.

Não tente ser profissional. Seja um amador profissional. (rs)

Uma das características dos amadores é usar todas as ferramentas à mão para tentar colocar suas ideias no mundo.

Seja um amador!

"Isso é o que todos nós somos: amadores.
Não vivemos o suficiente para nos tornarmos outra coisa."
(Charles Chaplin)

Os amadores aproveitam as chances, experimentam e seguem seus impulsos mais loucos. Faça isso. Pelo menos tente uma única vez. Você não vai se arrepender em procurar sua autenticidade.

Como Ter Ideias Com Sex Appeal?

1) Primeiro de tudo, não espere a ideia vir.

Fomente tudo o que você tem visto e vá anotando, misturando com referências que você gosta e, no fim, vai acabar saindo algo sob um novo ponto de vista.

Reserve um tempo do seu dia para anotar as novas ideias.

Um dia, lá na frente, você vai agradecer ao seu eu do passado por essas anotações.

2) Crie algo que você gostaria que tivessem criado

Sabe aquele autor que você adora e não lança mais nenhum livro?

Ou então… aquela banda que você conhece a discografia inteira, mas não estão tocando mais?

Então, crie o que você gostaria de consumir.

Escreva o livro que você gostaria de ler.

Crie músicas que você gostaria de ouvir.

Invente soluções que possam facilitar a sua vida e crie um negócio novo para resolver o problema de outras pessoas.

3) Use as mãos

O digital é um facilitador, mas ao mesmo tempo ele te coloca dentro de uma caixinha. É o mesmo teclado, a mesma tela, as infinitas notificações apitando no celular.

Fuja!

Austin Kleon (Roube Como Um Artista) defende a ideia de você criar usando suas mãos, rabiscando, desenhando, saindo do ambiente digital.

4) Diversão é importante

Aplique o que você viu aqui sobre a "magia do caos" e inove seu processo. Transforme a parte chata em algo divertido.

Além disso, busque viver novas experiências: saia de casa para curtir com seus amigos, com a natureza ou apanhar um pouco no jiu-jitsu (como é o meu caso).

5) Criou algo novo? Agora compartilhe!

O escritor é um escritor quando tem seus textos publicados.

O músico é um músico quando coloca sua cara na rua, compartilhando seus vídeos e canções.

O copywriter é um copywriter quando tem seu primeiro cliente e precisa escrever a campanha para jogar ela na rua.

"Dê o que você tem. Pode servir mais do que você imagina."
Henry Wadsworth Longfellow

O "pouco" que você cria pode ser MUITO para outra pessoa.
Lembre-se: somos todos amadores. Apenas se jogue.

Para finalizar a edição de hoje, segue uma foto minha em frente ao novo instrumento que vou aprender a tocar, graças à minha digníssima que resolveu aprender piano e comprou numa condição especial do HC. (Gracias, amigo).

Fique de olho 👁

A edição #004 da CopyLetter vai sair na próxima quinta-feira, por volta das 19h.

Ainda não sei sobre o que vou escrever.
Vou deixar o caos falar por mim nos próximos dias.

Por dentro da minha mente 🧠

  • 📖 Livro de hoje: "Messy"(Tim Harford)

    Se você quer experimentar um pouco dessa bagunça perigosa e anárquica, para ser criativo e resiliente em um mundo que gosta de arrumação, esse aqui é o seu livro.

  • 🎧 O que estou ouvindo: Queens Of The Stone Age – Songs For The Deaf

    Estava relembrando do show que assisti deles no maracanã, acho que foi em 2019, na mesma noite teve o Ego Kill Talent e o Foo Fighters para fechar com chave de ouro.

  • 📺 O que estou assistindo: The Office (HBO e Amazon)

    Estou prestes a entrar de férias, então estou me dando o direito de maratonar este clássico.esso criativo, ego (onde tem artista tem ego), e como aproveitar a jornada.

Indicações Sinceras ⭐️

1) Alquimia da Mente - Seja chato até se tornar interessante

Em sua última news, Henrique Carvalho, encaixou até o Messi na história. Ele dissecou os pequenos passos (chatos) diários para alcançar a glória no seu trabalho, estudos ou vida pessoal. Confira.

2) Matheus de Souza – Saúde mental dos nômades digitais

Em seu texto mais recente no portal Terra, Matheus conta como foi a decisão de pendurar a mochila e ter um comprovante de residência em seu nome, após seis anos viajando pelo mundo enquanto trabalhava de forma remota.

3) News do Léo Scorza: Hackeando O "Óbvio"

Por falar em caos e desordem na hora da criação, o Léo faz isso diariamente, sempre quebrando o status quo. Agora, ele está compartilhando um pouco do que se passa nessa cabeça excêntrica dele,na nova news "Hackeando O 'Óbvio'".

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